sexta-feira, 6 de junho de 2014

Facebook X What's up



Após uma aula de Psicologia Social no Mestrado, achei interessante trazer essa discussão para retomar com tudo o PORTAL RH SALVADOR!
Nos últimos anos fomos tomados por novas práticas sociais, principalmente no que diz respeito à organização de nossa rede de contatos, ao gerenciamento da nossa imagem pessoal e às formas de exercer o nosso ócio.
O Facebook surgiu com uma proposta inovadora de redes sociais, que nos proporciona acompanhar em tempo real os acontecimentos dos nossos contatos, dos contatos dos nossos contatos, como uma rede infinita. Podemos bloquear, desbloquear, Curtir, Descurtir, Compartilhar fatos e imagens, buscar conhecidos, grupos de interesses específicos.... enfim realizar uma infinidade de ações, que há alguns anos atrás seria impossível de se fazer, pelo menos nesse curto espaço de tempo.
O aplicativo para Smart Phones, o What's up, consagrou-se recentemente também por proporcionar gratuitamente a interação instantânea de pessoas e grupos fechados.
Existem rumores de que um estaria sobrepondo o outro e conquistando mais o gosto popular. Facebook, o expoente das práticas em rede, estaria ficando para trás em relação ao What's up, representante das práticas em grupos fechados? Quando uma necessidade social de se organizar em grupos fechados sobrepõe a demanda social de se ajustar em redes?
São questionamentos simples, que envolvem práticas também simples e consideradas até supérfluas por muitos, mas que refletem a complexidade de uma sociedade.


Vamos refletir um pouco como acontecem essas interações nesses dois ambientes virtuais? No Facebook, as pessoas tendem a se organizar em redes sociais, ou seja, estabelecem relações com outros indivíduos e essas relações podem ter laços fortes (pessoas com as quais você tem mais contato ou têm mais importância para você, como familiares e colegas de trabalho) e laços fracos (pessoas com as quais você não tem tanto contato atualmente ou sequer conhece pessoalmente, como amigos de amigos, colegas antigos).
Assim você realiza suas publicações, sejam fotos de uma viagem, frases de como se sente, textos interessantes para você, e todos esses dados, que vão expressar o seu "eu público", serão mostrados ali, naquele espaço para todos. Não há diferenciação, os dados são mostrados da mesma maneira para todos os seus contatos (a não ser que bloqueei algum), independente do seu papel social de amigo, irmão, chefe, subalterno, conhecido ou desconhecido. Como se existisse uma essência do seu “eu” e você fosse aquele mesmo para todos que ali visualizam.
Só que em teoria as coisas não acontecem assim. Os Comportamentalistas sabem da influência exercida pelo contexto na expressão de alguns comportamentos, então, é como se ali, no Facebook, ao publicar algo, os tipos de relação que você tem com as pessoas influenciassem de forma relevante a maneira como elas vão interpretar suas postagens.
Perceba isso ao analisar os comentários de alguma postagem sua, principalmente aquelas imagens ou textos que trazem um amontoado de comentários.
Inclusive, às vezes, você mesmo posta algo com o intuito de que seja interpretado de uma maneira, como por exemplo, uma frase ou pensamento que demonstre o quanto você se preocupa com sua carreira e investe nisso. Só que você não conta que, diante da complexidade de redes que estabelece ali naquele ambiente virtual, aquilo pode ganhar outra conotação, principalmente para aqueles com os quais você possui mais intimidade: sua mãe ou amigo mais próximo podem muito bem comentar nessa mesma postagem (a que você tinha o intuito de demonstrar a preocupação com a carreira) algo do tipo “Ahhhh!Mas se você não excedesse na bebida todo final de semana poderia se preocupar mais né?!”
Então toda sua intenção de se promover vai por água abaixo e aquela frase se torna grande piada. Um aspecto da sua vida privada e íntima, que você não tinha a intenção de expor, acaba por se tornar conhecida, já que você não tem o controle sob o efeito que suas postagens vão eliciar nos outros. Em geral ninguém se chateia com essa exposição, a não ser que algum prejuízo maior seja causado (como uma não-contratação numa empresa, ocasionada por algum comentário inoportuno), mas todos, em algum nível, percebem essa falta de controle do gerenciamento de sua imagem pessoal diante dos grupos sociais os quais faz parte.
Então o What´s up se consagra, já que proporciona o agrupamento de pessoas em bate-papos instantâneos. Nesse aplicativo, você consegue gerenciar de uma maneira mais eficiente o seu “eu-público”, já que existem categorias de amigos, de familiares, de colegas de trabalho… Você pode achar conveniente publicar certa imagem num grupo de amigos, mas não no grupo de trabalho, e vice versa. Dentro do grupo “família”, você pode criar outros subgrupos, como “Mulheres da família”, “Mães da família”, “Grupo das Solteiras”, “Grupo das Cozinheiras”, enfim, grupos criados com base no tipo de relação que têm com as pessoas.

Será que essa necessidade de controle e gerenciamento da imagem é o que vem fazendo um recurso se sobressair em detrimento do outro?
Cada um com sua importância e sua contribuição social, já que tanto as redes como os grupos específicos a que pertencemos exercem influência sob nós. Mas como somos seres incluídos no processo de inter-relação instantânea através de meios virtuais, temos que refletir sobre nossas práticas, inclusive para conhecermos mais sobre os fenômenos sociais e sobre nós mesmos.
Fica a reflexão, para cada grupo social com o qual me relaciono.


Por Camila Leão Veloso -Psicóloga, Coach e Mestranda em Psicologia das Organizações pela UFBA.



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