Após
uma aula de Psicologia Social no Mestrado, achei interessante trazer essa
discussão para retomar com tudo o PORTAL RH SALVADOR!
Nos
últimos anos fomos tomados por novas práticas sociais, principalmente no que
diz respeito à organização de nossa rede de contatos, ao gerenciamento da nossa
imagem pessoal e às formas de exercer o nosso ócio.
O
Facebook surgiu com uma proposta inovadora de redes sociais, que nos
proporciona acompanhar em tempo real os acontecimentos dos nossos contatos, dos
contatos dos nossos contatos, como uma rede infinita. Podemos bloquear,
desbloquear, Curtir, Descurtir, Compartilhar fatos e imagens, buscar
conhecidos, grupos de interesses específicos.... enfim realizar uma infinidade
de ações, que há alguns anos atrás seria impossível de se fazer, pelo menos
nesse curto espaço de tempo.
O
aplicativo para Smart Phones, o What's up, consagrou-se recentemente também por
proporcionar gratuitamente a interação instantânea de pessoas e grupos
fechados.
Existem
rumores de que um estaria sobrepondo o outro e conquistando mais o gosto
popular. Facebook, o expoente das práticas em rede, estaria ficando para trás
em relação ao What's up, representante das práticas em grupos fechados? Quando
uma necessidade social de se organizar em grupos fechados sobrepõe a demanda
social de se ajustar em redes?
São
questionamentos simples, que envolvem práticas também simples e consideradas
até supérfluas por muitos, mas que refletem a complexidade de uma sociedade.
Vamos
refletir um pouco como acontecem essas interações nesses dois ambientes
virtuais? No Facebook, as pessoas tendem a se organizar em redes sociais, ou
seja, estabelecem relações com outros indivíduos e essas relações podem ter
laços fortes (pessoas com as quais você tem mais contato ou têm mais
importância para você, como familiares e colegas de trabalho) e laços fracos
(pessoas com as quais você não tem tanto contato atualmente ou sequer conhece
pessoalmente, como amigos de amigos, colegas antigos).
Assim
você realiza suas publicações, sejam fotos de uma viagem, frases de como se
sente, textos interessantes para você, e todos esses dados, que vão expressar o
seu "eu público", serão mostrados ali, naquele espaço para todos. Não
há diferenciação, os dados são mostrados da mesma maneira para todos os seus
contatos (a não ser que bloqueei algum), independente do seu papel social de
amigo, irmão, chefe, subalterno, conhecido ou desconhecido. Como se existisse
uma essência do seu “eu” e você fosse aquele mesmo para todos que ali
visualizam.
Só
que em teoria as coisas não acontecem assim. Os Comportamentalistas sabem da
influência exercida pelo contexto na expressão de alguns comportamentos, então,
é como se ali, no Facebook, ao publicar algo, os tipos de relação que você tem
com as pessoas influenciassem de forma relevante a maneira como elas vão
interpretar suas postagens.
Perceba
isso ao analisar os comentários de alguma postagem sua, principalmente aquelas
imagens ou textos que trazem um amontoado de comentários.
Inclusive,
às vezes, você mesmo posta algo com o intuito de que seja interpretado de uma
maneira, como por exemplo, uma frase ou pensamento que demonstre o quanto você
se preocupa com sua carreira e investe nisso. Só que você não conta que, diante
da complexidade de redes que estabelece ali naquele ambiente virtual, aquilo
pode ganhar outra conotação, principalmente para aqueles com os quais você
possui mais intimidade: sua mãe ou amigo mais próximo podem muito bem comentar
nessa mesma postagem (a que você tinha o intuito de demonstrar a preocupação
com a carreira) algo do tipo “Ahhhh!Mas se você não excedesse na bebida todo
final de semana poderia se preocupar mais né?!”
Então
toda sua intenção de se promover vai por água abaixo e aquela frase se torna
grande piada. Um aspecto da sua vida privada e íntima, que você não tinha a
intenção de expor, acaba por se tornar conhecida, já que você não tem o
controle sob o efeito que suas postagens vão eliciar nos outros. Em geral
ninguém se chateia com essa exposição, a não ser que algum prejuízo maior seja
causado (como uma não-contratação numa empresa, ocasionada por algum comentário
inoportuno), mas todos, em algum nível, percebem essa falta de controle do
gerenciamento de sua imagem pessoal diante dos grupos sociais os quais faz
parte.
Então
o What´s up se consagra, já que proporciona o agrupamento de pessoas em
bate-papos instantâneos. Nesse aplicativo, você consegue gerenciar de uma
maneira mais eficiente o seu “eu-público”, já que existem categorias de amigos,
de familiares, de colegas de trabalho… Você pode achar conveniente publicar
certa imagem num grupo de amigos, mas não no grupo de trabalho, e vice versa.
Dentro do grupo “família”, você pode criar outros subgrupos, como “Mulheres da
família”, “Mães da família”, “Grupo das Solteiras”, “Grupo das Cozinheiras”,
enfim, grupos criados com base no tipo de relação que têm com as pessoas.
Será
que essa necessidade de controle e gerenciamento da imagem é o que vem fazendo
um recurso se sobressair em detrimento do outro?
Cada
um com sua importância e sua contribuição social, já que tanto as redes como os
grupos específicos a que pertencemos exercem influência sob nós. Mas como somos
seres incluídos no processo de inter-relação instantânea através de meios
virtuais, temos que refletir sobre nossas práticas, inclusive para conhecermos
mais sobre os fenômenos sociais e sobre nós mesmos.
Fica
a reflexão, para cada grupo social com o qual me relaciono.
Por Camila Leão Veloso -Psicóloga, Coach e Mestranda em
Psicologia das Organizações pela UFBA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário